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Um olhar para a própria beleza: Pensando o “Stop The Beauty Madness”

Stop The Beaty Madness e a “Ditadura da Beleza”

O Stop The Beauty Madness (veja o site aqui) é uma campanha internacional que visa mobilizar as mulheres contra a cultura que estabelece um padrão de beleza impossível, ou a chamada “ditadura da beleza”, para fazê-las, assim, aceitar a própria beleza.

O termo “ditadura da beleza” sempre me deixa com uma pulga atrás da orelha. Sou realmente obrigada – tal qual em uma ditadura – a submeter-se ao regime da beleza de padrões irreais? 

Existe, de fato, um mercado inteiro que se pauta na indústria da beleza (que vai não só de produtos cosméticos, como também o da moda, das cirurgias estéticas e além) e que é vendido de modo sistemático para as consumidoras. Ao comprar uma revista de moda ou fofoca, por exemplo, você compra não só a propaganda do produto de beleza, como também a ideia de que deve atingir um certo padrão através das reportagens que tratam da estética perfeita para o corpo feminino, frequentemente presentes em chamadas do tipo “Como queimar as gordurinhas e estar com o corpo perfeito para o verão”.

Não é apenas de beleza, contudo, que vive o mercado. Cada um de nós somos consumidores em potencial de toda e qualquer coisa que possa ser vendida. Somos bombardeados diariamente com dezenas de propagandas e ideias de “estilo de vida” que visam despertar o desejo por determinados produtos. Infelizmente, é como o mundo em que vivemos gira.

Beleza, todavia, é um assunto bastante delicado para as mulheres, pois mexe com o ego, com a auto-estima e auto-imagem. É fácil ser abordada e convencida de que deve alcançar um padrão de beleza próximo a perfeição, é fácil cair no consumo desenfreado para tal. É fácil, porém, quando consumimos ideias sem critério, sem conexão com a realidade, e nos levamos a crer que a imagem que vemos no espelho é feia, é incorreta e que deveria ser de outro modo. A indústria é, sem dúvidas, cruel e culpada, pois leva (muitas vezes intencionalmente) a este tipo de pensamento. Como, então, ver a própria beleza?

Experiência Pessoal

Aos 15 anos sofria bullying e achava que não era aceita pelas pessoas por minha aparência física. Queria, então, ser mais alta, ter os cabelos lisos, os traços perfeitos, os olhos claros etc etc etc. Em suma, não queria ser eu. Não queria ter meu corpo, pois o culpava pela ignorância e maldade que os outros destinavam a mim.

Meu olhar foi treinado por longos 15 anos para crer que não era bela, pois não correspondia a expectativas das pessoas. Deveria ser uma modelo e era uma nerd, nanica, de cabelos muito armados. Foi pirando desse jeito que entrei em um site que expunha os books de modelos e percebi algo: Todas eram lindas e todas era absolutamente distintas. Não havia padrão entre elas, não havia receita de forma perfeita. Cada qual era bela ao seu modo.

Minha cabeça explodiu ao realizar que a beleza é individual além de ser um conceito particular. Foi neste momento que comecei a me olhar de modo distinto. Passei a ver beleza, onde antes apenas enxergava defeitos. Aceitei-me. Acolhi-me. E me senti muito mais amada desde então.

No Make Up Challenge

Na vertente do Stop The Beauty Madness, há o projeto de fotos No Make Up Challenge, onde a pessoa em questão é desafiada a postar uma foto pública sem maquiagem. Entendo a noção de desafio: O feio (que nada mais é do que aquilo que não está dentro dos padrões) não é socialmente aceitável e creio que seja aqui que more a questão da “ditadura” que havia menciondo. Como já disse, tenho os cabelos muy armados. Gosto deles assim e passo o dia com eles lindos, leves e soltos dentro de casa. Quando piso os pés na rua, contudo, estou com eles pelo menos parcialmente presos para conter o volume. Por que? Pois me olham estranho, me encaram, me medem de cima a baixo e cochicham sobre o meu cabelo. Ainda não tenho tamanho desprendimento para apenas ignorar essas reações, portanto, sinto-me mais confortável com ele preso. A maquiagem tem efeito semelhante, pois quem usa torna-se esteticamente mais bela – ou dentro dos padrões de beleza – aos próprios olhos tal qual aos dos demais; e isso é extremamente confortável.

A “ditadura” mora na pressão social (e pessoal) por estar deste ou daquele jeito, adequar-se a padrões vindos de uma ideia disseminada pela a indústria da beleza, que trabalha unicamente para o próprio interesse, quase sempre divergente da beleza real e do sentir-se bem com o próprio corpo. Eu dou, deste modo, a minha cara a tapa. Cá estou eu durante todo este post revelando-me sem maquiagem, com o rosto pós-banho, cabelos molhados e cara de sono. Não estou desconfortável por me expor sem minha proteção social (a.k.a.: maquiagem), nem vejo o por quê disto. As pessoas que mais amo convivem com uma Cristina sem maquiagem, conhecem imperfeições minhas que não se comparam a qualquer uma que possua na forma física e ainda assim me amam.

Espero que o post tenha feito você refletir de alguma forma. O que acha do Stop The Beauty Madness e do No Make Up Challenge? E o que acha de viver uma vida com menos padrões e mais aceitação pessoal? Deixe seu comentário!

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16 comentários

  1. Adorei seu post!!!
    Infelizmente vivemos em mundo onde tudo tem um padrão,uma regra e aí de você se não segui-lo. Apesar de amar maquiagem sou totalmente a favor da quebra de padrões impostos.
    Vamos ser o que realmente somos. Isso é o que importa!

    BJKAS!!!

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  2. Olá Cristina, tudo bem?
    To adorando ler os posts dessa blogagem especial do RotaRoots, e gostei muito do teu. O ponto, par amim, é exatamente esse: você fazer enquanto acha confortável e quer fazer, tudo bem. Por pressão da sociedade? Jamais!
    Beijos!

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  3. Ahhhh Cris, ÉS LINDA! ❤
    Quase surtei quando vi esse tema no Rota, tão legal né? Eu talvez escreva, talvez não ~preguiça~, mas nem sei se seria necessário porque você completamente abordou o que eu penso sobre esse assunto todo! Direito no ponto da coisa! Isso é de uma histeria coletiva que sei lá, viu? E a gente vê traços do quão forte essa ditadura da beleza é nos blogs, sobretudo de moda e maquiagem. É impressionante quando você lê os comentários, e vê que a grande maioria das pessoas estão mais preocupadas em apontar se fulana engordou, tá com espinha, ficou feia na roupa, a maquiagem tá não sei o que… É coisa de doido esse mundo!
    Bjs!

    (http://dosdiascorridos.wordpress.com)

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  4. Vou começar dizendo o óbvio: você e MUITO bonita. Sério.
    Resumindo minha experiência pessoal: a minha beleza correspondia às expectativas gerais. O problema é que correspondia tanto, que eu estava doente e ninguém percebia. Tive anorexia.
    Hoje, vejo a beleza como um conjunto de três fatores: aparência inicial, charme e inteligência. Os dois últimos são os que mais considero. E luto contra a ditadura da beleza, essa forma equivocada de educar a sociedade.
    Adorei o teu post Muito útil, de verdade.
    Beijão.

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    • Sabe que sempre quando alguém diz sinceramente que sou bonita, sinto vontade de chorar? :,)

      Nina, linda! Acho de uma coragem incrível assumir publicamente a anorexia. Embora não tenha tido, conheço a gravidade do distúrbio e já acompanhei casos de recuperação. Sei da força que é preciso para superar e sei que força é o que não te falta!

      Charme e inteligência é tudo. Acho que é justamente isso que conquista, que faz o cotidiano ser bonito, pois a beleza não mora na pele perfeita, nas curvas ou nos padrões.

      Obrigada por passar por aqui mais uma vez! ❤

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  5. Esta série do Rotaroots está realmente um arraso! Adorei o seu blog, o seu texto e o seu cabelo. Entendo o que é andar na rua com todo mundo olhando para o volume, porque o meu cabelo é crespo, mas eu não me importo com isso e espero que um dia você consiga não se importar também.

    Quanto aos projetos, acho que eles são importantes desde que as pessoas saibam de fato do que se tratam, porque, como mencionei no meu post sobre isso, muita gente está transformando a coisa séria em brincadeira. Uma pena.

    (Aliás, a proposta do Rota de falar sobre o assunto e disseminar mais informação sobre isso na internet foi sensacional!)

    Beijos,

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    • Acho que tive muita sorte, ou que selecionei bem as pessoas que tenho contato pelas redes sociais, pois vi pouco dessa zoeira com a campanha. Entretanto, creio que quem faz pouco caso, ou a transforma em brincadeira e aposta, apenas mostra sua imaturidade e falta de conhecimento sobre o assunto, além de uma falta de empatia pelas meninas que sofrem e sofreram pela própria aparência.

      Depois desse post comecei a, aos poucos, tomar coragem pra sair com o cabelo solto. Quem sabe um dia consiga fazer como você! ❤

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  6. Cris, eu fico realmente feliz quando entro num blog e me deparo com um texto tão bem escrito como o teu. Como isso faz bem, viu =) A parte que mais me marcou foi a que tu disse que lá no alto dos teus quinze anos quis mudar teus traços e então: não ser mais tu. Como isso é recorrente nas nossas vidas, né? Como volta e meia nos pegamos pensando “e se fosse mais isso ou mais aquilo” e esquecemos que se esse “se” fosse verdade, então não seríamos mais nós, assim, como somos hoje. E sim, somos bombardeadas com campanhas midiáticas que só mostram mulheres perfeitas – que não existem. O tamanho da frustração e da ansiedade que isso gera em nós ninguém mede.
    Enfim, adorei teu texto. Tu escreve muito bem.
    beijão!

    Curtido por 1 pessoa

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