Vida
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Identidade

Quando era criança, tinha a preocupação constante de saber quem eu era. Definia-me pela numerologia, pelas cartas de tarot, pelos testes da Capricho, pelas notas na escola e, o mais triste, pelos olhos dos outros. Questiono-me até hoje se todos nascem sabendo quem são na fila do pão ou se o problema realmente sou eu. Apesar da distância que me separa da minha infância, ainda me vejo como uma grande folha em branco, levemente rabiscada à lápis ou, para ser mais romântica, como uma fênix, podendo renascer sem carga nenhuma a cada brisa mais forte.

QUEM SOU EU?

Pelos motivos citados lá em cima, acho difícil me definir. Me vejo como uma mistura de características pessoais que acho bacana, como um boneco montado e igualzinha à minha caligrafia (que surgiu da união de várias letras de distintas pessoas que eu achava bonita e tomei para mim). Do mesmo modo que minha letra, sei que minha personalidade não é das mais bonitas. Apesar disso, sei que posso descontruí-la, jogar fora quem eu sou e remontar uma pessoa nova. Sei, pois já o fiz (meus amigos de faculdade listaram cerca de meia-dúzia de Cristinas nos últimos quatro anos) e o faço ao longo de toda a minha vida. É um processo distinto daquele natural, de modificar-se com as experiências, aos poucos;  comigo a coisa é súbita, intensa, apesar de sempre vir com uma experiência muito forte pela qual vivo.

Lembro de ter visto uma séria de vlogueiras gringas fazendo um vídeo como esse no começo do ano passado. Não tinha canal ainda, mas guardei a ideia comigo e fiquei ansiosa por 2015. Apesar disso, foi difícil fazê-lo. Não por me expor, mas por me definir. Parti, então, de fatos: o que faço, com quem me relaciono, minhas preferências neste momento, o que sempre dizem sobre mim com mais constância. Não posso ir mais a fundo em definições, pois é terreno instável, mutável e inconstante. Quis ser,  então, dentro do possível, o mais verdadeira comigo e com quem por acaso der o play.

A verdade, contudo, nem sempre apetece quem a escuta. Boa parte das pessoas torce o nariz quando denomino-me abertamente como marxista (que é minha área de estudo e meu princípio por escolha na profissão que exerço) e outros tantos acusam-me de “revoltada” por ser ateísta (gente, tô de boa!). O bacana de gravar um vídeo é que não preciso ter que lhe dar com alguém dizendo-me que não acredita em “ismos” ou tentando-me convencer que tais coisas são erradas e falsas. Quem não curte dá joínha pra baixo e a vida segue.

BISSEXUALIDADE

Meu namorado riu e pareceu deslocado quando assistiu ao vídeo. Motivo: disse que sou bissexual.

Foi a primeira vez que assumi minha sexualidade publicamente. Na verdade, foi a terceira vez que disse isso a alguém (a primeira para ele, a segunda para uma amiga a qual sabia que não me julgaria).

A preocupação dele foi minha família. “E se alguém ver e comentar com seus pais?”. Lembrei que ouvi piadas contra homossexuais durante parte da minha infância, até que, após engolir pela milésima vez uma dessas, perguntei “Ué, que tem de errado homem ficar com homem e mulher ficar com mulher”. Houve um longo silêncio e uma resposta que pouco me convenceu. “Não é normal. O normal é homem e mulher”. Na mais tenra idade achava o normal bem chato e às vésperas da minha menarca minhas Barbies eram mulheres independentes, com seus cabelos loiros devidamente tingidos de vermelho ou preto azulado, que criavam suas filhas sozinhas e que possuíam relacionamentos lésbicos e abertos (a falta de um Ken pode fazer milagres na tolerância de qualquer criança sem preconceitos).

A reação da minha família (que para mim se resume aos meus pais já que meus gatos/cachorros/passarinhos não me julgam) sem dúvidas é importante, assim como é a dos meus amigos (por muito tempo guardei minhas escolhas para mim, por medo de alguma amiga achar que na brincadeira estava dando em cima dela, ou qualquer coisa do tipo que eu já presenciei pessoas dizendo sobre bissexuais), pois amo essas pessoas. Mas se minha preferência sexual é essa, a reação de ninguém, por mais negativa que for, pode mudá-la. Das poucas certezas que eu tenho é que eu amo pessoas. Amo o corpo, o caráter, a beleza no sorriso, no toque, no cheiro, na presença de seres humanos. Se a pessoa por quem eu me atraio ou pela qual eu me apaixono é do sexo feminino ou masculino, é o menor dos detalhes. Apesar de estar em um relacionamento com um homem, pelos motivos que acabei de citar, isso me faz bissexual e é isso que eu sou.

15 comentários

  1. Isadora - diz

    oi, meu nome é Isadora, e eu sou completamente apaixonada pela senhorita ❤
    QUE VÍDEO LINDO! que coisa linda que é se mostrar assim, Cris. nunca deixa ninguém te dizer o contrário, viu!?

    quero mais vídeo!

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  2. O que seria de nós se não pudêssemos nos construir e desconstruir? Em 4 anos de faculdade eu mudei, cresci, mudei de novo e isso é tão bom. Você acaba se tornando cada vez melhor e madura. Admiro você demais, não preciso dizer mais nada.

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  3. Pingback: Link party #1 – Favoritos de Janeiro | Universo Alternativo

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